Capítulo 1
O homem já profundamente adormecido com seus olhos semicerrados.
Patrícia Ribeiro, segurando a acidez indizivel em sua garganta, deslizou da cama, curvando as costas num arco atraente, escondido parcialmente por seus longos cabelos, que deixavam entrever sua beleza ainda crua e encantadora. Estava prestes a pegar as roupas jogadas do chão quando ouviu a voz fria atrás de si.
“Quanto você quer?”
O tom era desprovido de emoção, o calor embriagante da noite anterior já havia passado.
A mão de Patricia Ribeiro que segurava as roupas parou.
Era irônico, seu marido, que estava com ela há três anos, nem ao menos sabia quem ela era. Três anos atrás, ela havia salvado a vida de Avo Souza. Na mesma época, a empresa de seu pai enfrentava dificuldades no primeiro aporte de capital. Avô Souza aproveitou o momento para propor que ela se casasse com seu neto Rafael Souza e investiu três bilhões na família
Ribeiro.
Rafael Souza não apareceu em nenhum momento. Só depois de casada, ela soube que o homem tinha ido para o exterior.
Durante três anos, a esposa de fachada do Sr. Souza se tornou motivo de piada para os
outros.
Ela não imaginava que seu primeiro encontro com ele seria na cama.
“Não quero dinheiro.”
Ela vestiu suas roupas, confusa pela ressaca da noite anterior, sua cabeça parecia prestes a explodir.
“Se você não quer dinheiro, então quer o quê?”
Rafael Souza soltou uma risada de escárnio, olhando–a de cima a baixo com um olhar
penetrante.
Rosto pequeno e pálido, corpo na medida certa, olhar limpido, beleza acima da média, mas
era só isso.
Mais uma que se atirava em seus braços, a diferença é que dessa vez teve sucesso.
O homem desviou o olhar: “O que é seu por direito, você terá até o último centavo, mas quanto ao que não te pertence, é melhor esquecer.”
Ele estava bêbado na noite anterior, mas não a ponto de perder completamente o controle por uma mulher. O probléma estava no drinque que ela lhe ofereceu.
Patricia Ribeiro já estáva vestida. Na noite anterior, a familia Souza realizou uma festa de
boas–vindas, atraindo todas as socialites e herdeiras da região, ansiosas para ver o jovem empresário que havia voltado ao país para assumir o comando dos Souzas.
Ela chegou tarde, Avô Souza havia pedido expressamente que ela comparecesse, mesmo estando no exterior. Sua intenção era apenas aparecer e partir, mas seu pai a deteve, entregando–lhe duas taças de bebida.
Disse que era uma boa oportunidade para conversar com Rafael Souza, agora que ele havia retornado.
Mas depois…
Patricia sabia muito bem quanto Rafael Souza resistia àquele casamento. Como poderia convencê–lo de que nada do que aconteceu na noite anterior tinha sido intencional de sua parte?
Um traço de autodeboche apareceu em seus olhos e ela ficou calada por dois segundos: “Na verdade eu…”
O celular sobre o criado–mudo vibrou.
Rafael Souza olhou de relance para o aparelho, era seu advogado pessoal.
Apertou o viva–voz e uma voz respeitosa do outro lado disse: “Presidente Souza, estou no apartamento da Srta. Ribeiro, ela não está em casa. Devo enviar o acordo de divórcio para a familia Ribeiro?”
De pé diante da janela panorâmica, Rafael Souza franziu a testa observando a paisagem do rio à distância, sem guardar nenhuma lembrança dessa esposa de três anos.
Vovô Souza havia dito que ela tinha um bom caráter, não era de disputas, além de ser uma graduada talentosa da Universidade Capital. Mas o que isso importava?
A familia Ribeiro já tinha superado a crise, era hora de pagar a dívida pela vida de Vovô Souza que havia sido salva.
Com um tom frio e distante, ele instruiu: “Entre em contato com ela primeiro, peça para assinar os papéis do divórcio. Se ela não colaborar, aí sim contate a familia Ribeiro…”
Patrícia Ribeiro pegou seu celular para verificar se havia perdido alguma mensagem de trabalho, mas ao ouvir as palavras “acordo de divórcio“, ela congelou. A tela mostrava uma mensagem de seu pai, Lucas Ribeiro.
“Patricia, você saiu cedo ontem à noite? Sua tia pediu para eu perguntar se Rafael Souza bebeu o drinque.”
Patrícia Ribeiro baixou a cabeça: “Foi você que aprontou essa bebida, pai?”
“Quem mandou foi sua tia, se você não estiver atarefada hoje, passa no hospital pra dar um oi pra sua irmã, ela está morrendo de saudade.”
Patricia Ribeiro sentiu um nó na garganta, já sacava que aquela mulher estava aprontando
alguma.
Lucas Ribeiro, vendo que ela não respondia, falou: “Que foi? A bebida estava forte demais, te derrubou?”
Pensando que ela estava de ressaca, ele se apressou em oferecer alguma coisa pra curar a bebedeira, todo preocupado.
Patrícia Ribeiro não era de levar desaforo pra casa, mas como sua mãe tinha partido cedo e ele tinha tocado a empresa sozinho, além de fazer papel de pai e mãe, não tinha sido fácil.
E ele só tinha casado de novo quando ela estava no primeiro ano da faculdade, e nunca tinha feito nada para prejudicá–la.
Ela não queria trazer à tona o assunto, engolindo o desconforto: “Não precisa, daqui a pouco eu dou um pulo lá pra ver a Isabela. Diz pra tia que agradeço por ela ser tão atenciosa.”
A conversa perto da janela continuava, vagamente mudando para assuntos de trabalho.
Ela olhou para fora, onde a luz do sol batia nos ombros do homem de roupão branco, que estava à vontade.
Ele estava de costas para a luz, não dava pra ver sua expressão, mas o perfil era austero, só reforçando sua aura de distância e indiferença.
Patricia Ribeiro guardou o celular e saiu da sala, abrindo a porta.
Afinal, o cara estava planejando se divorciar, saber que ela tinha dormido com a esposa que ele desprezava há três anos seria bem constrangedor.
Melhor assim, que tudo acabe em paz.
Rafael Souza desligou o telefone, já estava tarde e ainda tinha um estranho para lidar, virou–se e olhou para o quarto silencioso, franzindo a testa.
A cama estava um caos, com lençóis amarrotados e uma camisa de terno jogada no pé da
cama.
O cheiro do vinho misturado com fragrâncias mais íntimas invadia o ambiente.
Ele massageou as testa, se não fosse pela vermelho escuro que manchava os lençóis, teria pensado que a mulher que viu ao acordar era uma alucinação.
Bateram na porta e a voz do secretário Rui soou: “Presidente Souza.”
“Entra.”
A porta se abriu e Rui entrou com um terno novinho, olhou ao redor, confuso com o que via,
em fazer perguntas, deixou a roupa e recuou para a sala.
mas
Rafael Souza tomou um banho e se arrumou, saindo do quarto em seguida.
Rui o seguiu, mantendo uma distância respeitosa. Já na porta, Rafael Souza parou: “Quem saiu do meu quarto essa manhã?”