Capítulo 2
Rul se lembrou da cena que acabara de testemunhar e, entre o choque e a surpresa,
percebeu o jogo: “Vou verificar isso agora mesmo…”
Rafael Souza mordeu o lábio, seus olhos se fecharam com uma expressão sombria, como quem joga um jogo de gato e rato, mas aquela manobra era de baixo nível.
Investigar por conta própria poderia ser exatamente o que ela queria,
“Deixa pra lá.”
O esquema todo armado com tanto esforço certamente se repetiria.
Patricia Ribeiro voltou às pressas pro seu apé, tomou um banho caprichado, esfregando–se várias vezes, antes de finalmente desabar na cama.
Fechou os olhos e a imagem do homem a dominando com ferocidade invadiu seus pensamentos. No começo, ela não se adaptou, mas depois a intensidade daquele tremor parecia penetrar–lhe os ossos.
Para ser sincera, tendo Rafael Souza como seu primeiro parceiro, não foi tão ruim – exceto por ouvir o nome de outra mulher de seus lábios..
Renata, Renata Andrade…
Era essa a razão do divórcio que ele queria.
Apesar do cansaço extremo, a dor que seu corpo sentia a mantinha lúcida.
Patricia Ribeiro virou–se na cama, ainda desconfortável.
Levantou–se e abriu a gaveta, onde estavam guardadas duas certidões de casamento de capa vermelha.
No dia em que pegaram os documentos, Rafael Souza nem apareceu, mas o Vovô Souza tinha seus contatos e ela conseguiu pegar tudo sozinha.
Era a primeira vez que ela os abria, a primeira vez que encarava o homem cujo nome estaval registrado ao lado do seu naqueles papéis.
Após um olhar, jogou tudo de volta na gaveta e decidiu visitar Isabela Ribeiro.
Dirigiu até o hospital e chegou bem na hora do almoço, quando até os empregados se ausentavam para comer.
Isabela Ribeiro, que estava deitada, iluminou–se ao ver Patrícia e sentou–se rapidamente.
“Mana, que surpresa você por aqui!”
Ela ainda estava pálida, mas parecia bem: “O pai está exagerando de novo? Eu disse pra ele que tava tudo bem, pedi pra ele não te contar.”
Patricia Ribeiro sentou ao lado da cama e passou um copo d’água pra ela: “Pai está
preocupado.”
Isabela sempre fol frágil e ficava facilmente doente, às vezes, andar um pouco já a deixava ofegante. Lucas Ribeiro tinha um carinho especial por ela.
“Mas eu odeio ficar no hospital, mãe fica de olho e só posso comer canja, não aguento mais.“, Isabela fez belcinho: “Esses dias ouvi as enfermeiras falando do doce de soja do refeitório, deu uma vontade…”
Ela agarrou a mão de Patricia: “Você é a melhor, hoje mesmo recebo alta, um pouquinho só não vai fazer mal.”
Os olhos de Isabela brilhavam, cheios de inocência.
Patricia não resistiu e comprou um pouco para ela.
“Só pode experimentar, não engole.“, Com cuidado, Patricia pegou a colher, prestes a alimentá–la, quando a voz de Estela Cruz ecoou na porta.
“O que você está fazendo?!”
Estela entrou apressada e furiosa, arrancou a colher e o prato das mãos de Patrícia e jogou no lixo: “Aproveitou que eu não estava aqui pra matar sua irmã, não é? Eu sabia que você não prestava!”
Patricia foi empurrada para o lado, olhou para o doce de soja no lixo, e sorriu amargamente.
“Ela te deu mais alguma coisa? está sentindo dor?”
Estela inspecionava a filha, pronta para ligar para Lucas Ribeiro e reclamar, mas Isabela a interrompeu: “Mãe, você está enganada, eu que pedi pra ela comprar.”
Estela Cruz parou, mas não se sentiu constrangida: “Isabela não sabe o que faz, e você, como irmã mais velha, também não?”
“Se não fosse por ela, seu pai
teria nos deixado na rua sem olhar pra trás por tanto tempo? Você precisa mesmo estar tão mal assim?”
“Mãe, deixa disso, a mana está na correria, não é sempre que consegue dar um pulo aqui.”
Estela Cruz soltou um resmungo, enquanto seu olhar se desviava para a jovem silenciosa ao lado.
Não tinha lá grande simpatia pela filha do primeiro casamento do marido.
Era só pelo fato de a garota ainda ter alguma serventia para a familia Ribeiro, pensou ela, lançando um olhar para o pescoço de Patrícia Ribeiro.
Estava limpinho, sem qualquer marca..
Por Cruz duvidou se o plano da noite anterior tinha mesmo dado certo.
um instante, Estel
Se não fosse pela esperança de que a família Souza desse aquela força para os Ribeiro, ela jamais teria empurrado um cara tão bacana como Rafael Souza para Patricia Ribeiro. A
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1989 7
Capitulo 2
culpa era da sua própria filha, que não era lá muito resistente.
Estela Cruz se irritou por dentro, e sua voz salu ainda mais carregada: “Rafael Souza voltou pro Brasil, você é a mulher dele, não pode só pensar em si mesma. Tem que ver como al familia Souza pode dar um jeitinho pro seu pal.”
Ouvindo o tom de quem se acha no direito, Patricia Ribeiro esboçou um sorriso: “Tia Estela fala como se eu nunca tivesse ajudado, é isso que a senhora pensa, ou meu pai também acha isso?”
Estela Cruz engasgou, e Isabela Ribeiro apressou–se em dizer: “O médico me passou um remédio, mana, você pode pegar pra mim?”
Ao sair do quarto, ela ainda ouviu as reclamações de Estela Cruz.
“Seu pai nunca deixou faltar nada pra ela, ela que tem bronca de mim. A mãe dela morreu de tanto trabalhar, e seu pai estava na luta, naquela vida dura. Ela deve achar que a culpa é minha. Hmph, ela que é culpada por não ser feliz…
Patricia Ribeiro franziu a testa, a dor da noite anterior ainda estava lá, tinha se segurado para não deixar Estela Cruz perceber.
Depois de pegar os remédios, deu uma passada no ginecologista.
A região estava um desastre, com rasgos e tudo mais, a expressão da médica era de extrema seriedade.
“Moça, você quer fazer uma denúncia?”
Patrícia Ribeiro hesitou, meio que entendendo a situação, e respondeu meio sem jeito: “Na verdade, foi meu marido, ele tinha acabado de voltar de viagem, e se excedeu um pouco…”
A médica percebeu o desconforto dela e com um olhar compreensivo, disse: “Aqui está a pomada, não esqueça de passar, e por enquanto, nada de relações, viu? E fala pro seu marido pegar leve. Jovem assim, não é bom estragar a saúde.”
Parecia que tinha suspeitado de algo pior.
Patrícia Ribeiro pegou a pomada, meio queimando de vergonha.
Saindo do consultório, deu de cara com o irmão de Isabela Ribeiro, Filipe Ribeiro.
Ele olhou pra cima, fixando o olhar na medicação nas mãos de Patrícia Ribeiro.
Passou um brilho estranho em seus olhos: “Patrícia, veio ver a Isabela, né… está se sentindo
mal?”
