Capítulo 22
“Meu marido é só um programador mesmo.”
Ela soltou essa mentira despretensiosa e continuou, séria, “Casamento é jogo de dupla, né? Não dá pra deixar ele se matando sozinho.”
Patricia empurrou o café na direção de Rafael Souza com um sorriso. “Ele não ganha muito, mas é um cara de familia.”
A imagem que Patricia Ribeiro descrevia era de um parceiro ideal que só existia na imaginação dela.
Claro, Rafael Souza estava longe de se encaixar naquele perfil.
“E o Presidente Souza, então? Aquela moça disse que o senhor é casado. Como é sua esposa?”
Ela só queria puxar papo pra quebrar o gelo com o cliente.
Pois, ele nem sabia o nome nem o rosto dela, que resposta ela poderia esperar?
Rafael Souza franziu a testa, sincero na resposta. “Eu não sei.”
Mas ele forçava pra se divorciar, e mesmo com o acordo de divórcio enviado para a família Ribeiro, aquela mulher não dava as caras.
Ela estava esperando do quê?
Só podia querer continuar sugando os Souzas feito uma parasita.
Patrícia Ribeiro ficou surpresa com a franqueza, mas dai chegou o garçom com os pratos e
ela mudou de assunto.
“O chef Pedro adora artes, e poderia tentar replicar quadros famosos em forma de comida.”
Três pratos refinados chegaram, um caos de cores que de algum jeito se complementavam. “Presidente Souza, por favor.”
Patrícia sentia a visão duplicar, queria terminar aquela a conversa logo e correr pro hospital.
Mas Rafael Souza, segurando a xícara de café, perguntou, “Como você sabe que eu tenho problemas de estômago?”
Ela hesitou por um segundo, “Advinhei. Sabendo que o Presidente Souza é um workaholic, deve pular refeições.”
Na verdade, ela tinha ouvido do vovô Souza, reclamando que Rafael era obcecado pelo trabalho e sempre c
problemas de estômago.
Ele só podia contar com a Patrícia para dar um toque de vez em quando.
Ela não queria dececionar o velho, então sempre concordava com os requisitos dele.
Mas nesses três anos de casados, eles nem sequer se encontraram uma vez.
Os pratos continuaram a chegar e Patrícia os apresentava rapidamente, aproveitando para observar a reação de Rafael.
Ele era mestre em controlar as expressões dele; sete pratos e nem um tremor de cílio.
Patrícia não fazia ideia do que ele preferia.
Até na hora de comer, ele apenas experimentava e logo largava os talheres.
Não tinha nenhum de que gostasse?
Ela começou a duvidar das informações do João Pereira; se Rafael tinha estudado arte, não deveria ter uma reação tão apática.
*Senhorita Penny?”
“Penny?”
Patrícia voltou a si e percebeu que Rafael já estava de pé, com uma ruga de preocupação na
testa.
Ela estava tão fora de si que mal se lembrava do que tinha acontecido, apressou–se em dizer “Vou acertar a conta.”
Rafael olhou para ela, quase achando que ela queria dar o calote, se não fosse pela sinceridade no rosto.
O garçom colocou a conta na frente dela, sem resposta, ele passou a máquina para Rafael.
Rafael achou graça, passou o cartão e viu que Patrícia continuava distraída.
“Já está pago.”
Patricia Ribeiro parou de supetão, meio tonta por ter se levantado rápido demais, e, sem querer, se inclinou na direção dele.
Rafael Souza até que pensou em desviar, mas percebeu que estavam perto da escadal rolante. Hesitou por um instante, e já era tarde: ela caiu nos braços dele.
Só dai ele notou que ela estava ardendo de febre.
O cheiro fresco que vinha do homem invadiu as narinas de Patrícia, que, mesmo confusa, forçou a mente a funcionar e, ignorando o mal–estar, se afastou um pouco. “Desculpa, acho que peguei um resfriado ontem à noite.”
Resfriado?
Rafael Souza olhou para o rosto pálido dela e pensou: será que essa doida passou a noite inteira mergulhada na água fria?
*Já que é casada, por que não avisou seu marido para te levar ontem?”
Pois, depois de tomar aquele remédio, tendo a ajuda de alguém é sempre melhor do que se virar sozinho.